Em tempos de pandemia de covid-19, as centrais sindicais encontraram uma nova forma de manifestação e promoveram nesta quarta-feira, 8, uma aglomeração virtual na Esplanada dos Ministérios. Dessa vez sem bandeiras, fogos de artifício e barracas, o protesto aconteceu com faixas digitais erguidas por avatares – bonequinhos que simularam a presença dos sindicalistas em um mapa em frente ao Ministério da Economia.
As centrais brasileiras buscaram inspiração nos
sindicatos franceses que, como era de se esperar,
não deixaram de protestar mesmo durante o pico de
transmissão do novo coronavírus na Europa. A
plataforma utilizada para emular manifestações à
distância foi criada na França e leva o nome Manif.app
– o termo informal usado como sinônimo para marchas,
protestos e passeatas.
Respeitando as recomendações da Organização Mundial
da Saúde (OMS) e o decreto do governo do Distrito
Federal que impede a concentração de grupos
numerosos de pessoas em Brasília, apenas líderes da
CUT, Força Sindical, CSB, UGT, CTB e NCST estiveram
presencialmente na frente do ministério. Já no
ambiente virtual, cerca de 400 militantes marcaram
presença e deixaram suas mensagens.
No protesto presencial, a pauta foi clara: a
ampliação do auxílio emergencial de R$ 600 até o fim
do ano, a criação de um programa permanente de renda
básica e uma agenda para a retomada segura do
trabalho. Um documento com essas propostas já havia
sido entregue ao presidente da Câmara dos Deputados,
Rodrigo Maia (DEM-RJ) no mês passado.
Já na manifestação digital, os avatares de duas
dimensões ampliaram o leque de demandas. As
mensagens contrárias ao presidente Jair Bolsonaro,
ao ministro Paulo Guedes dominaram as faixas
levantadas pelos militantes em forma de pixels.
Dessa vez, porém, uma manifestação sindical precisou
lidar com o contraditório e com provocações em meio
a suas próprias fileiras. Como não há controle sobre
os comentários feitos na plataforma, alguns
apoiadores do governo se infiltraram no protesto e
também levantaram faixas digitais com mensagens de
apoio a Bolsonaro e Guedes.
O confronto foi inevitável, mas se limitou a
xingamentos mútuos, e nenhum bonequinho se feriu.
Não houve danos ao mapa virtual nem a necessidade de
forças de segurança digitais dispersarem agressores
de ambos os lados. Enquanto isso, um torcedor
anônimo aproveitou para gritar “vamos Flamengo”.
Quem não esteve presente – nem virtualmente – foi o
próprio ministro Paulo Guedes, que se mantém em
quarentena na residência presidencial da Granja do
Torto. Todos os compromissos do ministro na agenda
desta quarta e dos próximos dias ocorrerão por meio
de videoconferências, já que ele teve contato direto
com Bolsonaro – diagnosticado nessa terça com covid-19.
Nada impede, porém, que o próximo protesto digital
se teletransporte para o local de isolamento do
ministro.
Fonte: Estadão